domingo, 19 de julho de 2009

Terminais de ônibus em ruínas

Ano 2001

Pontos de embarque e desembarque no Distrito Federal mais se assemelham a estações destruídas. Governo pode conceder um novo reajuste na tarifa de ônibus

Renato Alves
Da equipe do Correio

Fotos: Carlos Vieira
Terminal de São Sebastião: faltam instalações básicas como assentos para passageiros, banheiros e telefone público
Abandonados, sujos e malcuidados, os terminais de ônibus no Distrito Federal mostram a precariedade do sistema de transporte coletivo brasiliense. Em algumas cidades, os pontos finais parecem construções em ruínas. Faltam assentos, abrigos, banheiros e bebedouros para os usuários. Para piorar, os passageiros podem ter de pagar ainda mais pela tarifa. A passagem deve sofrer o segundo reajuste em menos de dois meses (leia matéria ao lado).

O Correio visitou 14 terminais rodoviários de nove cidades. O que se viu foi um descaso com o patrimônio público, motoristas, cobradores e usuários de ônibus. Nas regiões mais pobres, os pontos de embarque e desembarque são uma área de terra, no meio do cerrado, sem iluminação e qualquer proteção para passageiros e trabalhadores rodoviários (leia quadro).

O governo de Cristovam Buarque (1994-1998) tinha um projeto de terminal para a quadra 402 de Santa Maria. A construção começou em 1995 e parou no chão de asfalto e na estrutura de seis boxes para lanchonetes e serviços. A obra incompleta do governador petista tampouco foi concluída por Joaquim Roriz. O mato e o lixo tomaram conta do asfalto e do concreto. Uma empresa de ônibus construiu uma casa para atender seus funcionários. O único banheiro está sujo e quebrado. Não há bebedouro. ‘‘A única proteção que temos é essa cobertura’’, ressalta o desempregado José Nascimento, 45 anos, embaixo de uma tenda de 20 m², feita de madeirite e telha de amianto por um vendedor de churrasquinho.

No Recanto das Emas, duas empresas de ônibus assumiram, em parte, o papel do governo. Instalaram modestos quiosques para abrigar seus funcionários, no final da quadra 116, ao lado de um matagal. Não existem, porém, banheiros ou bebedouros nem para os rodoviários. ‘‘Aqui a gente fica ao relento, igual cachorro sem dono’’, reclama a dona de casa Maria do Socorro Freitas, 41.

Em São Sebastião, cidade com 65 mil habitantes, o único terminal rodoviário é apenas um balão de concreto com placas que indicam os números das linhas. Construído no setor São Francisco, distante da área central, o terminal não tem cobertura, assentos, iluminação, banheiros, telefones públicos nem lanchonetes para atender os passageiros. Quando chove, o lugar é inundado, pois não há bueiros nem saída para águas. Os dois banheiros existentes atendem apenas aos rodoviários. Estão quebrados e imundos.

Camelôs e lama
Os problemas não se restringem aos terminais das cidades mais pobres do DF. A Rodoviária do Plano Piloto, por onde circulam 450 mil pessoas todos os dias, é uma praça de camelôs. As bancas dos ambulantes invadiram o espaço dos passageiros. Algumas passagens nas plataformas superior e inferior estão praticamente intransitáveis. Os painéis eletrônicos que deveriam mostrar os itinerários e horários das linhas de ônibus não funcionam.

Na Asa Norte, o terminal é uma área de terra, ao lado da 2ªDelegacia de Polícia. As erosões dificultam a passagem dos ônibus. Não há banheiros para os rodoviários nem para os passageiros, que também não desfrutam de cobertura, assentos ou bebedouros.

O Sindicato dos Rodoviários mandou pelo menos 15 ofícios às Administrações Regionais e à Secretaria de Transportes, nos últimos dois anos, relatando os problemas. ‘‘A resposta é sempre a mesma: sabem das falhas mas não têm verba para solucioná-las’’, conta o presidente do sindicato, João Osório.

A Assessoria de Comunicação do DMTU alega que os terminais estão sob responsabilidade das administrações regionais. O administrador de Brasília, Clayton Aguiar, prometeu enviar uma equipe de fiscais à rodoviária do Plano Piloto hoje ‘‘verificar o que acontece’’. Em relação ao terminal da Asa Norte, ele disse que apenas jogará cascalho no terreno. ‘‘Mas só poderemos fazer isso depois das chuvas’’, ressaltou.

O Correio também tentou entrevistar Ronan Batista, secretário de Coordenação das Administrações Regionais. Assessores informaram que ele está viajando, incomunicável, e só retorna a Brasília hoje. Já o seu subsecretário, Célio Gomes de Aguiar, disse não saber se há previsão no orçamento para reforma, manutenção ou construção de terminais nas cidades.


Raio x dos terminais

  • SÃO SEBASTIÃO
    Setor São Francisco – O terminal é apenas um balão de concreto com placas que mostram os números das linhas. Não há cobertura, assentos, iluminação, banheiros, telefones públicos nem lanchonetes para atender os passageiros. Quando chove, o lugar é inundado, pois não há bueiros nem saída para águas plauvais.

  • BRAZLÂNDIA
    Os ônibus circulam na terra. Também não há cobertura para os veículos e passageiros nem iluminação.

  • CEILÂNDIA
    Setor O – A iluminação precária e a falta de policiamento colaboram para o terminal ser o mais visitado por ladrões no DF. Os banheiros são imundos.

  • PARANOÁ
    Avenida Principal – A iluminação precária contribui para assaltos — a maioria das lâmpadas está quebrada. Os vidros das janelas, espelhos e portas e janelas dos banheiros quebrados. Vasos sanitários sujos. Não há bebedouros.

  • PLANO PILOTO
    Rodoviária do Plano Piloto – O maior terminal rodoviário do DF está tomado de camelôs. Bancas e lojas invadiram os espaços dos passageiros. Os painéis eletrônicos que deveriam informar os itinerários e horários das linhas de ônibus não funcionam. O DMTU não disponibiliza listas com informações sobre as viagens há mais de um ano.
    Asa Norte – O terminal é uma área enorme de terra, ao lado da 2ªDP. As erosões impedem a passagem dos ônibus. Não há banheiros para os rodoviários nem para os passageiros, que também não desfrutam de cobertura, assentos ou bebedouros. O lugar não é iluminado nem sinalizado.
    Asa Sul – É uma exceção. Junto com o terminal do Metrô, oferece conforto e segurança aos rodoviários e passageiros.

  • PLANALTINA
    ArapongA– Apenas um grande estacionamento de terra. Não há abrigo para rodoviários e passageiros, muito menos banheiro ou bebedouro.
    Central – Sujo e mal iluminado. Os passageiros disputam espaço com vendedores ambulantes e mesas e cadeiras espalhadas pelos bares instalados no terminal. Os banheiros públicos estão sempre sujos. Quando chove, as plataformas de embarque e desembarque alagam.

  • RECANTO DAS EMAS
    Quadra 116 – Duas empresas de ônibus assumiram o espaço de terra e levantaram pequenos boxes para abrigar seus fiscais. Faltam banheiro, bebedouro, assento e abrigo para rodoviários e passageiros.
    Quadra 604 – Faz jus ao apelido de Poeirinha. Só há uma pequena guarita para os fiscais. É grande o risco de acidente com crianças quem brincam na área de terra batida. As casas vizinhas vivem empoeiradas por causa das manobras dos ônibus.

  • SAMAMBAIA
    Norte – Sem iluminação e calçamento. Também não existem assentos ou abrigo. Banheiros sujos, entupidos e sem portas.

  • SANTA MARIA
    Quadra 402 – O terminal começou a ser construído em 1995 e parou no chão de asfalto e na estrutura de seis boxes para lanchonetes e serviços. O mato e o lixo tomaram conta. Não há bebedouro nem banheiro para usuários. Os passageiros disputam espaço embaixo de uma tenda de madeirite e telha de amianto levantada por um vendedor de churrasquinho.
    Quadra 118 – Como na 402, empresa de ônibus levantou a casa, sem bebedouro, assento, banheiro e abrigo para os usuários.


  • Aumento na tarifa pode chegar a 15%

    Roberto Fonseca
    Da equipe do Correio

    A semana começa com duas notícias ruins para os usuários do sistema de transporte coletivo do Distrito Federal. De um lado, os rodoviários, em campanha salarial, prometem intensificar as paralisações-relâmpagos nos terminais de ônibus. Do outro, técnicos da secretaria de Transportes já estudam um novo aumento de tarifa.

    O reajuste das passagens foi pedido pelos empresários no dia 2 de janeiro. Eles querem um aumento médio de 52,6%. ‘‘O percentual ainda está em estudo. Até amanhã, irei me reunir com os rodoviários e patrões para discutirmos o tema. Em seguida, levarei a proposta para o governador Joaquim Roriz’’, afirma o secretário de Transportes, José Geraldo Maciel.

    Os primeiros cálculos indicam que as passagens de ônibus devem subir em 15,4%, em média. Com isso, a tarifa mais cara passaria de R$ 1,90 para R$ 2,30. Segundo Maciel, desde o último reajuste — em 17 de novembro do ano passado — o preço do óleo diesel aumentou 44%.

    ‘‘Existe uma defasagem no valor da tarifa. Os gastos com combustível representam um terço do orçamento das empresas’’, argumenta o secretário de Transportes. O presidente do sindicato das empresas de ônibus do DF, Wágner Canhedo, e o vice, Vitor Forestti, não foram localizados ontem.

    Os rodoviários prometem realizar mais paralisações-relâmpagos até o próximo domingo, quando haverá assembléia geral para decidir pela greve. O movimento gira em torno do acordo coletivo, que vence no dia 31 de janeiro.

    Sem aumento há cinco anos, os rodoviários pedem 33% de reposição salarial, jornada de seis horas corridas, qüinqüênio, pagamento de sete dias de salário para os funcionários que não faltarem ao serviço durante um ano e renovação da frota. ‘‘Até agora não conseguimos nada com os patrões. Temos que chamar a atenção da sociedade para o nosso problema’’, comenta o presidente do sindicato dos rodoviários, João Osório.

    Um comentário:

    Anônimo disse...

    Se prestarem a atenção, o transporte coletivo de Brasília já foi decaindo no Governo Roriz!!!

    Até chegar no que hoje se tornou uma calamidade pública!